COMÉRCIO EM DINHEIRO E MERCADORIAS

Os comerciantes se preocupavam com medidas e dinheiro. Antes de examinarmos seu método de trabalho e como viviam, vamos ver o que diz a Bíblia sobre as medidas e o dinheiro.

Medidas Lineares – As medidas lineares foram desenvolvidas de acordo com as proporções do copo humano, o dedo, a palma da mão, a envergadura (distância entre o polegar e o dedo mínimo), o côvado (distância do cotovelo até o dedo médio), e o cordel ou braça era a distância da ponta do dedo médio até o outro dedo médio, com os braços estendidos. Isso resulta numa tabela de comprimento como segue:

4
Dedos
=
1
Palmo
3
Palmos
=
1
Envergadura
2
Envergaduras
=
1
Côvado
4
Côvados
=
1
Braça

Esse sistema tinha os seus problemas. As medidas do corpo variam de indivíduo para indivíduo e há evidência de que havia comprimentos diferentes para o côvado, de aproximadamente 45cm a 52cm. Havia um “côvado real” longo, de 7palmos ou 28 dedos (todas as medidas reais eram maiores do que as padrão), havia também côvados antigos (II Cr. 3:3) e novos (Ez. 40:5). No geral, porém, o sistema era facilmente compreendido e as medidas aproximadas podiam ser calculadas.

As distâncias mais longas eram calculadas vagamente, em termos de um dia de caminho (por exemplo, Gn. 30:36). Muito mais tarde, os gregos usaram uma medida chamada estádio (stadion, plural stadia), que era pouco maior do que 40m, mencionada no livro de Macabeus. A distância não era usada para cálculos de área como fazemos hoje em nosso sistema. Um acre era a quantidade de terra que podia ser arada pelo boi num dia (Is. 5:10). A máxima distância que o judeu podia andar no sábado (jornada de um dia de sábado, At. 1:12) era 2.000passos, ida e volta de uma milha romana (1.000 passos).

Capacidade – Era originalmente medida de um modo similar, doméstico, e o nome do receptáculo dava nome também ao peso. A maior medida de capacidade para secos era o ômer (issarion), que significa “carga de um jumento” e era usado para cereais (lv. 27:16). O efa era um grande recipiente com tampa e, segundo Zacarias 5:6-7 tinha tamanho suficiente para que uma mulher coubesse nele. Valia um décimo do ômer (Ez. 45:11) e era também usado para medir cereais (Rt. 2:17). O ômer “feixe” era a menor medida para cereais e valia um décimo do efa (Êx. 16:33). Ele tinha provavelmente o mesmo tamanho de um him, que na verdade significa “décimo” era usadopara medir carne (Êx. 29:40). O equivalente líquido do efa era o bato. Isso fornece uma tabela numa base de dez.

10
Ômer / Him
=
1
Efa / Bato
10
Efa / Bato
=
1
Ômer 

Sem qualquer relação com essa tabela decimal estava o him, usado para medir as ofertas de óleo e vinho (cerca de 7 pintas: 0,437gr). Um sexto de um him era a quantidade mínima de água necessária a cada dia (Ez. 4:11).

Parece ter  surgido maior exatidão no decorre3r do tempo. Os assírios desenvolveram um sistema numa base de seis. Como segue:

6 qa (cabo)
=
1
Situ (sato)
30 situs
=
1
Gur (coro)

As palavras soavam muito próximas das hebraicas qab, seah, e kor (sato, bato, coro). É então possível que os judeus tenham adotado o sistema e feito uso dele em conjunto com o antigo. Isso significaria:

6 qa
=
1
sato
30 sato
=
1
coro

O cabo é mencionado no cerco de Samaria, em que a quarta parte de um cabo de esterco de pombas (ou sementes) foi vendido por cinco siclos de prata (II Rs. 6:25). O sato era usado para medir farinha e cereais (II Rs. 7:1) e o coro media grandes quantidades de líquido e era o equivalente do ômer (Ez. 45:14). Não pudemos encontrar os correspondentes exatos, mas a carga de um jumento ou coro é calculada em cerca de 220 litros (aprox.. 58 galões).

Peso – O verbo “pesar” é “shaqual (siclo) em hebraico e por essa razão o “siclo” se tornou a medida básica. O cabelo de Absalão media 200 siclos (II Sm. 14:26). Dos números dados em Êxodo 38:25-26, podemos calcular que um beca era a metade um siclo. Mais tarde, outra medida foi adotada, chamada mina, que valia provavelmente cinqüenta siclos. Isso nos dá a seguinte tabela:

2 becas
=
1
Siclo
60 siclos
=
1
Mina
60 minas
=
1
Talento

Os nomes da tabela precedente foram adotados em outros países, mas os múltiplos e as medidas reais eram diferentes. Além disso, existe a complicação de que os comerciantes provavelmente usavam dois conjuntos. Um conjunto leve era usado para comprar e outro mais pesado para vender (Dt. 25:13). Isso dava ao comerciante uma porcentagem de lucro legítima e o seu uso não consistia em fraude. Os pesos mistos é que constituíam o problema, ou o uso deliberado de pesos falsos para enganar as pessoas (Lv. 19:35-36; Mq. 6:10-11). Os pesos em si eram quase sempre pedras moldadas, esculpidas na forma de animais e outros temas, e marcadas com o seu peso. Eles eram usados em balanças (Is. 40:12). Calcula-se que o talento pesava entre 3 e 4K. ele tomou o seu nome da tampa grande e pesada de um receptáculo.


Cunhagem – Nos primeiros dias da Bíblia, o comércio era feito mediante trocas, mas em breve foi reconhecido que era mais conveniente trocar algo que por sua vez pudesse ser trocado por outra coisa. Isso veio a ser praticado, pesando quantidades de metal. Abraão, portanto, pesou 400 siclos de prata em pagamento de uma sepultura para sua família (Gn. 23:16). Os metais usados nas transações eram feitos segundo uma forma padrão, tais como discos, barras e anéis, mas a verdadeira cunhagem não começou até o século VII a.C. A marca do rei era então colocada num pedaço de metal para garantir seu peso e pureza e, portanto, o seu valor.
As moedas não são mencionadas até bem tarde na Bíblia. Só nos dias de Neemias é que lemos sobre “dáricos de ouro” (Ne. 7:71), cunhados por Dario da Pérsia e que tomaram o seu nome. As moedas surgiram em maior quantidade nos dias do Novo Testamento, mas havia tantos tipos que o dinheiro gerava muita confusão. Três sistemas de cunhagem estavam em uso. A cunhagem romana era aceita internacionalmente e consistia de moedas de cobre, bronze, prata e outro. Quando Jesus disse aos discípulos para não levarem ouro, prata oucobre em seus alforges (Mt. 10:9), Ele provavelmente se referia à cunhagem.

Moedas romanas
4 quadrantes
=
maravedis = 1 asse
(moedas de cobre)
4 asses
=
1 sestércio (bronze)
4 sestércios
=
1 denário (prata)
25 denários
=
1 áureo (ouro)













As moedas romanas são muito familiares no Novo Testamento. Jesus disse que se formos enviados à prisão por um adversário, não sairemos dela até que tenhamos pago o último quadrante (Mt. 5:26). (Ceitil na ARC – N.doT.) Mateus 10:29 nos conta que dois pardais eram vendidos por um sestércio. (Ceitil na ARC.) Os trabalhadores da vinha em Mateus 20:1-16, receberam um denário cada um, que era o salário-padrão do dia de trabalho. Dois denários foram pagos pelo bom samaritano ao hospedeiro (Lc. 10:35) e Jesus pediu que lhe mostrassem um denário quando foi questionado sobre o dinheiro do tributo (Mc. 12:15).

Moedas Judaicas – Os romanos permitiram que as moedas locais circulassem além das suas. A cunhagem judia era muito limitada. Moedas parecem ter sido feitas por Neemias, provavelmente para pagar o imposto do templo. Nada mais foi mencionado sobre cunhagem até que um dos descendentes dos macabeus conseguiu esse privilégio dos senhores sírios (1 Mac. 15:6). No período do Novo Testamento, a única moeda judia era o lepton de cobre, que significa “pequeno, fino”. A viúva as colocou no tesouro (Mc. 12:42). [A leitura da ARC é: “pequenas moedas, que valiam cinco réis” – N.doT.] O lepton equivalia a meio quadrante. As primeiras moedas “verdadeiras” dos judeus foram produzidas em épocas de revolta, entre 66 a 70 d.C. e entre 132 e 135 d.C.

Cunhagem grega – A outra cunhagem em uso era o dinheiro grego, originalmente da casa das moedas estabelecida em Aco por Alexandre, o Grande, e subsequentemente cunhada em vários centros. Veja a tabela abaixo:
2 dracmas
=
1 didracma
2 didracma
=
1 tetradracma (ou estáter)
2 tetradracmas
=
1 mina
Grande número de minas
=
1 talento

A dracma equivalia a um denário. O estáter, portanto, correspondia a quatro denários. Essas moedas são mencionadas no Novo Testamento. Foi uma dracma que a mulher da história de Lucas 15:8 deixou cair do turbante. A didracma equivalia ao meio-siclo que os judeus precisavam para pagar o imposto do templo. Pelo fato de a moeda não ser muito comum, uma tetradracma foi usada para duas pessoas. Pedro encontrou essa moeda na boca do peixe para pagar o seu tributo e o de Jesus (Mt. 17:27). Foram provavelmente 40 tetradracmas que Judas recebeu por trair Jesus (Mt. 26:15). A mina foi a moeda entregue as servos pelo seu rei (Lc. 19:13). O talento era uma grande quantidade de dinheiro e não uma moeda. Foi usado para descrever uma dívida impossível (10.000 talentos, Mt. 18:24) e na parábola à qual empresta o seu nome (Mt. 25:14-30).

Câmbio – As pessoas que trabalhavam com dinheiro tinham muitas oportunidades de emprego. Os cambistas eram chamados quando havia necessidade de moedas específicas e cobravam dez por cento pela troca. O mais importante era o dinheiro usado no templo, onde se pagava o tributo e o sacrifício de animais considerados ritualmente puros. Alguns acreditam que Neemias mandou fazer uma cunhagem especial com esse propósito (Ne. 10:32)  e que esta prática continuou. Doze por cento era cobrado por essas transações.
Quando Jesus expulsou os cambistas do templo, Ele parece ter agido de acordo com duas profecias messiânicas (S. 69:9; Ml. 3:1-4; veja Jo. 2:17). Não se trata dos cambistas terem feito algo criminoso, mas por não ser essa uma atividade suficientemente boa para a casa de Deus (Mt. 21:13).

Os cambistas também faziam empréstimos (de fato a mesa sobre a qual o dinheiro passava era chamada de “banco”). Jesus sugeriu em sua história do dinheiro confiando aos servos do rei, que ele poderia ter sido investido de modo a render juros (Mt. 25:27; Lc. 19:23). Há uma questão aqui que precisa ser esclarecida. No período do Antigo Testamento, a vida dependia de uma economia agrícola simples. Ninguém precisava de empréstimos para fazer investimento; eles eram necessários apenas para ajudar o indivíduo em épocas difíceis. Por essa razão, não era permitido cobrar juros porque isso seria lucrar com as dificuldades de um irmão (Êx. 22:25; Lv. 25:53; Dt. 23:19). Lucros provenientes de juros podiam, no entanto, ser recebidos de um estranho (Dt. 23:20). Nos dias do Novo Testamento, a economia havia mudado e era possível emprestar dinheiro para começar um negócio e esperar um retorno desse empréstimo, como nas parábolas. Mesmo assim, Jesus reprovava empréstimos particulares com pagamento de juros (Lc. 6:34).







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