“Desde a primeira vez em que
calcei tamancos de madeira – nós os chamamos klompen, na Holanda – eu sonhava
com feitos heroicos. Imagina que era espião em serviço na retaguarda do inimigo;
que rastejava por debaixo de arame farpado, enquanto projéteis luminosos ardiam
no ar, perto de mim.
Nós, garotos holandeses, utilizávamos
os tamancos para lutar: qualquer menino que fosse atingido com um daqueles
sapatos de madeira, o fora apenas porque não pegara o seu próprio,
suficientemente rápido. Eu era rápido, gostava de correr mas o tempo corria
mais depressa do que eu...
“está na hora de você escolher
uma profissão, André” avisou meu pai, “no próximo outono eu quero saber a sua
decisão”. Debaixo dos suspiros de minha mãe, respondi meses depois: “Vou
ingressar no exército”.
Então, você vai em busca de
aventuras?
Perguntou-me um vizinho. Vou orar
por você, André. Vou orar para que a aventura que você encontrar o
satisfaça. Olhei para ele admirado. O que
ele queria dizer com “aventura que satisfaça”? pensei, enquanto olhava para os
campos planos que se estendiam a perder de vista em todas as direções.
Sei que nos dois anos seguintes,
tornei-me famoso entre as tropas holandesas na Indonésia, por minhas loucas
bravatas no campo de batalha. Quando lutávamos, lutávamos como doidos. Quando bebíamos,
bebíamos até perder os sentidos. Quando eu acordava, depois daquelas orgias,
ficava imaginando por que estaria agindo daquela maneira, mas a pergunta sempre
ficava sem resposta.
E então, certa manhã, uma bala
atingiu o meu tornozelo, e para mim a guerra acabou. Aconteceu tão repentinamente
e, a princípio, foi tão indolor, que eu não sabia o que havia acontecido. Havíamos
todos caído em uma emboscada. O inimigo atacava de três lados, com uma força
muitas vezes superior “a nossa, e quando estava correndo, de repente caí. Eu sabia
que não havia tropeçado, mas não podia me levantar.
Horas depois, fui levado para a
mesa de operação em um hospital de campanha. Eles levaram duas horas e meia
para costurar meu pé. Ouvi os médicos discutindo se deviam amputar ou não. Minha
grande aventura fracassara. E o que era pior, eu estava com vinte anos, e descobrira
que não havia nenhuma aventura verdadeira em parte alguma do mundo.
Então, em meio “a manhã em
setembro de 1949, estávamos sentados na cama, lendo e escrevendo cartas, depois
dos exercícios matutinos, quando a enfermeira entrou, no quarto do hospital: “quero
convidar vocês todos para participarem da reunião que teremos hoje à noite na
tenda”. Era um culto.
Ainda ecoa dentro de minha
cabeça: Deixa o meu povo ir... deixa-me ir...parece ser bobagem dizer que um
simples hino que eu apenas ouvira, naquela noite e nem chegara a cantar poderia
tornar-se uma oração, e que Deus poderia atende-la. Nada no mundo me
interessava, exceto a incrível viagem de descobrimentos em que eu estava
empenhado. “Amigos”, disse o pastor, “esta noite, sinto que uma coisa muito
especial vai acontecer nesta reunião. Há alguém no meio do auditório que deseja
se entregar para o trabalho missionário”.
Será que eu pretendia mesmo ser
missionário ou aquilo era apenas um sonho romântico? Eu ouvira Sidney Wilson
falar muitas vezes de “oração insistente”. Com isso ele queria dizer orar até
receber a resposta. Bem, eu iria tentar...
Orei durante toda aquele hora, e
continuei durante o resto da tarde. Escureceu, e eu ainda não chegara ao ponto
de ter a certeza de que descobrira o plano de Deus para minha vida. “O que é,
Senhor? O que é que estou retendo? Qual a desculpa que estou dando para não te
servir em qualquer coisa que queira que eu faça?”
E então, ali, finalmente
encontrei a resposta. O meu “sim” para Deus sempre fora um “sim, mas...” Sim,
mas não tenho cultura. Sim, mas sou aleijado.
“Eu irei, Senhor”, disse eu, “não
importa como. Quando quiseres, aonde quiseres, como quiseres, eu irei. E começarei
neste momento. Senhor, quando eu me levantar deste lugar, quando eu der o
primeiro passo, considere que é um passo em direção à completa obediência a Ti.
De volta ao lar, já não podendo
servir ao exército, não conseguia parar de pensar na decisão que tomara. Dentro
de mim, uma pequena voz parecia dizer: “Vá!” Era a voz que havia me chamado no
vendo, a voz que nunca fazia sentido em termos de lógica. Era a voz do espírito
Santo de Deus!
Até que certa manhã, apertei a
mão de papai, e corri para a estrada, para pegar o ônibus e começar a primeira
parte de uma viagem que continua até hoje”
Fonte: Portas Abertas
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