CAPÍTLO 2
“Senhor, se tu me mostrares o
caminho, eu te seguirei. Amém” foi simples assim. Mas recuei outra vez. Parecia-me
que havia muitos pontos contra mim. Eu não tinha estudado muito e, embora eu
escondesse o fato, tinha um tornozelo aleijado. Como poderia ser missionário,
se nem ao menos conseguia andar um quarteirão sem dor?
E difícil contar “a garota com
quem pretendia me casar, que eu repentinamente decidi ser missionário. Que espécie
de vida seria a que eu ofereceria a ela? Trabalho árduo, salário baixo e talvez
desagradáveis condições de vida em algum lugar distante.
A princípio Thile ficou emocionada com as coisas que estavam acontecendo comigo,
mas à medida que as semanas se transformaram em meses, ela começou a ficar
alarmada. “Você não precisa ficar tão abrasado, André”, disse ela. “Você não
acha que deve diminuir o ritmo um pouco? Leia alguns livros diferentes. Vá ao
cinema de vez em quando.”
Não me incomodei. Nada no mundo
me interessava, exceto a incrível viagem de descobrimentos em que eu estava
empenhado. De tempos em tempos, também Thile
perguntava se eu havia encontrado um emprego. Este era um problema mais sério. Naturalmente,
enquanto eu não tivesse emprego, não poderia sugerir a ela o sonho que eu
tivera havia muito tempo, para nós dois. Bem, eu iria tentar.
E algum tempo depois, após uma
oração fervorosa, abrindo o meu coração com Deus, senti uma torcedura violenta
na perna aleijada. Pensei aterrorizado que estroncara o tornozelo. Com cuidado,
firmei o pé no chão. Vi que podia apoiar-me nele perfeitamente. Eu estava
andando perfeitamente, estava curado! O que havia acontecido? Devagar, comecei
a andar, e enquanto eu andava, um versículo da Escritura começou a vir à minha
mente: “Indo eles, foram purificados”.
E Deus me curou, me supriu. Ele nunca
falhou. Lembrei-me emocionado de quando retornei à minha casa ao deixar o
exército... “O cemitério estava banhado por um luar intenso, de lua cheia, e
foi fácil encontrar o túmulo. Assentei-me no chão e disse as últimas palavras à
minha mãe. ‘Voltei, mamãe’. Parecia natural conversar com ela. ‘Eu não li a
Bíblia, mamãe. A princípio não, mas li depois’. Houve um longo silêncio. ‘Mamãe,
o que é que vou fazer agora? Eu não posso andar cem metros sem que a dor me
faça parar. Sinto-me tão inútil, mamãe. E culpado. Culpado pelo tipo de vida
que levei durante a guerra. Responda-me, mamãe’. Porém não houve resposta
nenhuma.
Mas, agora, eu estava
milagrosamente curado!
Recordei-me também de que, u
tempo depois disso uma coisa ainda mais esquisita aconteceu. Durante um período
de descanso, eu estava folheando as revistas que nos eram dadas, quando, de
repente, minha mão agarrou a Bíblia que eu conservava no criado-mudo, como
recordação da minha mãe. Eu não a lera desde que voltara para a Holanda. Mas naquela
tarde, repentinamente, comecei a ler, e para minha admiração, eu a compreendi. Todas
as passagens que haviam parecido tão confusas, quando eu lutara com elas
anteriormente, surgiam de repente como uma história de ação em ritmo
trepidante. Deus estava trabalhando em cada detalhe...
...Primavera de 1955. Meus dois
anos no colégio de Treinamento Missionário estavam quase terminando, e eu
estava ansioso para começar o ministério. E então, certa manhã calmamente, sem
estardalhaço, como na maioria das vezes é a operação de Deus – peguei uma
revista, e a minha vida, desde então, nunca mais foi a mesma. Como ela chegou
ali, jamais ficarei sabendo.
Peguei-a, e comecei a folheá-la. Era
uma bela revista, com belas fotos. Muitas delas mostravam multidões de jovens
desfilando pelas ruas de Pequim, Varsóvia e Praga. O texto, em inglês, me
informava que aquelas pessoas faziam parte de uma organização mundial com
noventa e seis milhões de membros. Em parte alguma a palavra “comunista” era
usada, e a palavra “socialista” só aparecia ocasionalmente. O tema principal
era um mundo melhor, um futuro brilhante. E então, no final, aparecia o anúncio
de um festival da juventude que deveria ser realizado em Varsóvia, no mês de
julho. Todos eram convidados.
Todos? Em vez de jogar a revista
fora, naquela noite, sem ter ideia de onde aquilo me levaria, escrevi algumas
linhas para o endereço de Varsóvia mencionado na revista. Disse-lhes
francamente que estava estudando para ser um missionário evangélico, e que
estava interessado em ir ao festival da juventude para trocar ideias: eu
falaria a respeito de Cristo, eles poderiam falar sobre o socialismo. Será que
eles concordariam que eu fosse naquelas circunstâncias?"
Fonte: Portas Abertas
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